Quando eu era criança, fui ensinado na igreja que as palavras Cristão e Nazareno eram sinónimos, e que se referiam ao mesmo grupo de pessoas. Anos depois, percebi que isso não era correto. Um dos fundadores da Igreja Católica, Epifânio de Salamina, escreveu um livro no início do século IV chamado Panarion (Contra as Heresias), no qual ele condenava um grupo chamado “Nazarenos” por praticar o “Cristianismo Judaico”. Ou seja, os Nazarenos acreditavam no Messias, mas ainda assim mantinham os ritos Judaicos originais da circuncisão, o Shabbat e as Leis de Moshe (Moisés).
“Os Nazarenos não diferem em nada essencial deles [os Judeus Ortodoxos], já que praticam os costumes e doutrinas prescritas pela lei Judaica; excetuando o facto destes acreditarem em Cristo. Eles acreditam na ressurreição dos mortos, e que o universo foi criado por Deus. Eles pregam que Deus é Um, e que Jesus Cristo é Seu Filho. Eles são muito instruídos na língua hebraica. Eles leem a Lei [referindo-se à Lei de Moisés] … Portanto, eles diferem… dos verdadeiros Cristãos porque satisfazem até agora [tais] ritos Judaicos como a Circuncisão, o Shabbat e outros”.
[Epifânio de Salamina, “Contra as Heresias”, Panarion 29, 7, pp. 41, 402].
Como Epifânio era católico, sua condenação dos Nazarenos significava que os Cristãos Católicos e os Nazarenos não poderiam ter sido o mesmo grupo de pessoas, mas eram dois grupos separados.
No entanto, se o Messias e Seus apóstolos eram Judeus, por que Epifânio condenou aos Nazarenos por praticarem o Cristianismo Judaico? Para responder a essa pergunta, vejamos as obras de Marcel Simão, um experto no Catolicismo tardio do primeiro século. Embora Marcel Simão fosse um Católico devoto, discordava de Epifânio, dizendo que Epifânio sabia que a Igreja Católica não era descendente dos apóstolos.
“Eles [os Nazarenos] são caracterizados essencialmente por seu apego tenaz às observâncias judaicas. Se eles se tornaram hereges aos olhos da Igreja Mãe, é simplesmente porque permaneceram fixos em posições antiquadas. Se bem representam, (embora Epifânio se recusa a admiti-lo), aos descendentes diretos dessa comunidade primitiva, da qual nosso autor [Epifânio] sabe que foi designado pelos Judeus pelo próprio nome de “Nazarenos”.
[Especialista do primeiro século Marcel Simão, Judeu-Cristianismo, pp. 47-48].
Marcel Simão diz-nos que Epifânio sabia que o os Nazarenos eram aqueles que descendiam dos apóstolos Tiago, João, Pedro, Paulo, André e os outros; mas tanto Epifânio como Marcel Simão chamaram os Nazarenos de “hereges” porque ainda tinham a mesma fé que o Messias lhes tinha ensinado. Mas não é isto o que diz a Escritura?
Yehudá (Judas) 3
3 Amado, por causa da grande solicitude que tive em escrever-vos sobre a nossa salvação comum, achei necessário escrever-vos, exortando-vos a lutar ardentemente pela fé que uma vez foi entregue aos santos.
Se Judas diz-nos para “batalhar fervorosamente” pela fé que foi “uma vez entregue” aos santos, então não é essa a fé que devemos manter?
Quando comecei a ler mais sobre a Igreja Católica, comecei a ver que havia muitos na Igreja Católica que achavam que de alguma forma tinham autoridade para mudar o que as Escrituras ensinavam.
“Alguns teólogos têm argumentado que Deus também determinou diretamente o domingo como o dia de adoração na Nova Lei, (e) que Ele mesmo substituiu explicitamente o Shabbat pelo domingo, mas agora esta teoria está totalmente abandonada. Agora comummente sustenta-se que Deus simplesmente deu a Sua Igreja o poder de separar qualquer dia ou dias que ela achasse adequado como dias santos. A Igreja escolheu o domingo, o primeiro dia da semana, e com o tempo acrescentou outros dias como dias santos”.
[John Laux, Curso de Religião para Escolas e Academias Católicas (1936), vol. 1, p. 51].
John Laux estava dizendo que a Igreja tinha a autoridade para mudar a palavra do Pai? Que sentido faria isso? Não faz sentido nenhum, mas outros Católicos disseram a mesma coisa.
“Mas você pode ler a Bíblia do Gênesis ao Apocalipse, e você não encontrará uma única linha que autorize a santificação do domingo. As Escrituras impõem a observância religiosa do Sábado, um dia que nós [a Igreja] nunca santificamos”.
[James Cardinal Gibbons, A Fé de Nossos Pais, 88ª ed., pág. 89].
Muitas autoridades de alto escalão da Igreja Católica reconhecem que a Igreja Católica havia mudado os dias de adoração por conta própria.
“Pergunta: Você tem alguma outra forma de provar que a Igreja tem o poder de instituir festivais de preceito?
“Resposta: Se não tivesse esse poder, não poderia ter feito aquilo, e todos os religiosos modernos concordam com ela; não poderia ter substituído a observância do domingo, o primeiro dia da semana, pela observância do Sábado, o sétimo dia, mudança para a qual não há autoridade bíblica”.
[Stephen Keenan, Catecismo Doutrinal 3ª ed, Página 174].
Assim, pode-se dizer que a Igreja Católica afirma ter tido o poder de mudar os dias de adoração simplesmente porque o fizeram (e porque eles conseguiram). Contudo, isso não está de acordo com as Escrituras! Pelo contrário, nos é dito que não devemos acrescentar nem subtrair de Sua palavra.
Devarim (Deuteronômio) 12:32
32 “Tudo o que eu te ordeno observarás; nada lhe acrescentarás nem diminuirás”.
O Criador havia dito a Israel que guardasse o sétimo dia, Shabbat (Sábado) como seu dia oficial de descanso, e nunca foi profetizado que mudaria.
Shemote (Êxodo) 20:8
8 “Lembra-te do dia do Shabbat, para separá-lo (santificá-lo)”.
O que aconteceu? Os Católicos tinham reprimido a fé Israelita Nazarena original? E se assim for, como podemos reconstruir a fé original para aqueles que desejam praticá-la?
E, podemos verificar tudo isso nas Escrituras? As Escrituras nos dizem em algum lugar que havia dois grupos separados de pessoas no primeiro século, os Cristãos e os Nazarenos? E se assim for, a qual grupo as Escrituras dizem que os apóstolos pertenciam?